IDIOSSINCRASIA GRUPAL E O AIKIDO

A idiossincrasia de um grupo se constrói através do tempo?

Alguns elementos que compõem esta construção, se alicerçam nos valores, objetivos e crenças, que formam com o passar do tempo, um consciente coletivo, reforçados pela valorização histórica de seu passado, deixando através de um trabalho interno de seus membros, a memória de seus antepassados e suas realizações, a valorização até um certo ponto mítica, de seus alicerces são partes da história e da identidade dos grupos e estes devem estar sempre presentes na mente dos membros do grupo.

No caso do grande grupo dos praticantes de Aikido, no plano mundial, a permanente divulgação sobre os primórdios do Aikido tem se dado através de livros, vídeos e pela dedicação daqueles Senseis e Shihans no mundo todo que permanentemente vem divulgando este legado, tanto aos seus discípulos como ao público em geral, seja através de verbalizações “in person” ou através da internet.  Em grupos “menores”, como organizações e Dojos filiados ou vinculados ao Hombu Dojo(Japão), a divulgação e valorização desses elementos devem ser trabalhados e exercidos, necessariamente por todos, incluindo os instrutores e senseis, além de eventualmente todos os praticantes mais antigos, vem divulgando seguidamente, valores e fatos históricos da organização, que não devem nunca ser esquecidos por todos nós.

Ao escrever este texto me veio à lembrança de um elemento importante do caráter do Shihan Kawai: a bondade e a capacidade de perdoar seus desafetos. Por ser um líder forte, determinado e com muitas responsabilidades, muitas vezes algumas pessoas levavam algumas de suas decisões para o terreno pessoal. Hoje, aos quase 70 anos, vislumbro como é complexo lidar com os nossos semelhantes dentro de um grupo ou organização e vejo que um dos motivos para isso é que as pessoas se sentem incomodadas e desconfortáveis é por que pensam e avaliam os acontecimentos, do grupo ou organização, sem ter uma visão do todo de toda a sua idiossincrasia, numa comparação simplista, seria como um paciente que não tem todas as informações, objetivas, subjetivas e interações complexas de seu tratamento e fica desgostoso com o seu médico, por não entender o tratamento a que está sendo submetido, claro que por mais que ele seja informado, nunca vai ter a mesma visão e entendimento que o médico, mas não resta dúvida de que quanto mais dermos informações a ele, mais próximo ele estará de uma situação onde dificilmente haverá algum grave desconforto ou contrariedade em relação ao que o terapeuta lhe recomendou. No caso de um grupo ou organização esta função de disseminar as informações que ajudaram a formar essa percepção idiossincrática é daqueles membros mais antigos que tem um viés de formador de opinião, nossos “apóstolos”. Mas ser um disseminador de todos estes elementos dentro de um grupo traz muitas responsabilidades, como veremos a seguir.

Os perigos inerentes na formação da idiossincrasia de grupo.

Em um experimento dos anos 50, muito comentado no meio acadêmico, cientistas comportamentais americanos levaram para um acampamento, em uma ilha, adolescentes que se viam pela primeira vez. Ao desembarcarem foi distribuído a cada adolescente de uma forma aleatória, uma camiseta de cor azul ou vermelha, de forma que ficaram todos inseridos e identificados como participantes de um dos dois grupos. daquele momento em diante todas as atividades dos grupos eram feitas em separado e comiam em horários diferentes, dormiam em alojamentos distintos e nas brincadeiras, jogos e práticas esportivas, formavam equipes adversárias. 

O experimento teve que ser interrompido antes da “deadline” determinada, em função de as disputas em jogos terem se tornado violentas e com brigas despropositadas entre os Azuis e Vermelhos. Vale lembrar que nos anos seguintes diversos outros experimentos confirmaram esse fenômeno. Após um longo tempo de estudos têm surgido diversas teorias tentando explicar as origens do fenômeno, algumas no campo da Sociologia outras no campo da Antropologia, mas de alguma forma todas remetem a um sentimento, talvez atávico, de proteção e preservação, e desta maneira começa a brotar a falsa percepção de que tudo que tem em nosso grupo é melhor e mais valioso do que o outro ou os outros de modo geral. Este mecanismo foi muito valioso e benéfico, para a nossa espécie, num passado não muito distante, foi valioso e benéfico para a sobrevivência de diversos grupos humanos e pré-humanos, assim como tem sido também para diversos grupos animais que vivem em bandos. Mas no atual momento de nossa “evolução”, cabe uma pergunta este fenômeno ou mecanismo assim como está registrado em nossa herança primal, é benéfico ou maléfico?

Penso ser maléfico na medida em que ele de alguma forma toma corpo nos nossos comportamentos grupais destrutivos em disputas entre grupos radicais de torcedores clubísticos, grupos religiosos, raciais, políticos e outros grupos que se formam e hão de se formar no futuro, isto não quer dizer que nestes grupos nominados sempre vá haver uma tendência  a violência, mas é onde históricamente, eles mais se manifestam, a história recente de nosso País e de alguns outros demonstra cabalmente esse pensamento.

Mas por outro lado é benéfico por oportunizar ao homem realizar diversos feitos que levaram a uma excepcional melhora na qualidade de vida do ser humano, se analisarmos toda a trajetória histórica da humanidade sobre a terra, os grandes avanços sempre foram conseguidos através do esforço e trabalho de grupos, isto se vê na ciência, por exemplo, desde a criação da lâmpada, que não foi a criação de apenas um homem, mas o trabalho de um grupo em função de uma ideia, passando pela criação da primeira “máquina  computacional” moderna, Colossus, que daria início e sentido para os computadores modernos, trabalho que foi realizado por Alan Turing em conjunto com um grupo de cientistas com o intuito de decifrar os códigos secretos criados pela máquina enigma da Alemanha Nazista, durante a Segunda Guerra Mundial, e ainda passando pelas grandes conquistas espaciais de Americanos e Soviéticos levadas a cabo sempre por grupos de homens que se engajaram com dedicação total a uma causa, até um dos últimos grandes feitos que foi o sequenciamento do Genoma Humano, que só foi possível após um um monumental projeto de trabalho grupal, conhecido como Projeto Genoma Humano (PGH), que durou 13 anos, o PGH foi composto por 17 países que iniciaram programas de pesquisas sobre o genoma humano. Os maiores programas foram realizados na Alemanha, Austrália, Brasil, Canadá, República Popular da China, Coreia do Sul, Dinamarca, Estados Unidos, França, Israel, Itália, Japão, México, Países Baixos, Reino Unido, Rússia e Suécia e outros países com menor participação.

Como vimos cabe a cada um de nós fazer o melhor uso desse poder inerente ao ser que é o de formar grupos. Talvez um remédio para quando estivermos em dúvida quanto a entrar na ’’onda’’ seria nos fazermos perguntas do tipo; Isto está em acordo com os meus valores? Isto é realmente uma vontade minha ou do grupo? Devemos fazer melhor uso de nossa consciência.

Cabe aqui também a pergunta, que tipo de grupo vamos escolher participar e se associar, a grupos maléficos ou benéficos? Mas aqui cabe outro questionamento, como identificar se um grupo é benéfico ou maléfico?

Para isso poderíamos nos fazer algumas perguntas esclarecedoras: 

  1. Os objetivos do grupo levam a valores como respeito a vida como um todo sem distinção de idade cor, religião ou qualquer outro tipo de segregação?
  2. As ferramentas e meios para atingir os objetivos do grupo respeitam a integridade e  a individualidade dos que não fazem parte do grupo?
  3. Os valores do grupo vão ao encontro dos meus?

Pensem sobre isso, estou a disposição para troca de idéias em vargas.aikido@gmail.com


R. Vargas

Vargas Aikido

INSBRAI

AGORA OU NUNCA MAIS

 

 

O povo Japonês tem a cultura de criar frases(yojijukugo) que sintetizam profundamente idéias e sentimentos filosóficos e culturais, fazem isto reunindo alguns ideogramas que tornam possível divulgar estes conhecimentos. Um exemplo significativo é a expressão “ichi go ichi e”, que transmite um ideal estético ligado aos conceitos zen-budistas e à consciência da impermanência de tudo que existe, e que por isto todos os instantes devem ser valorizados, principalmente os momentos que estamos com outras pessoas, seja um simples encontro, uma reunião familiar ou de negócios ou ainda um keiko(treinamento) de artes marciais  Esta expressão vem sendo interpretada de diversas formas, ao longo dos séculos, aqui vou citar duas “uma vez um encontro” e “agora ou nunca mais”. A primeira vez que tive contato com este provérbio Japonês, foi em Hiroshima num encontro com meu grande amigo Narita Sensei, quando ele olhou para o cèu, apontou para umas nuvens que estavam acima de nós e disse “este céu que está agora acima de nós dois jamais se repetirá” e pronunciou, “Ichi go ichi e”  

 

Apesar de já ter sido analisada exaustivamente sob a ótica do Chanoyu ou Chá-Do (Cerimônia do Chá) do Shodo(Caligrafia), Sumie e tantas outras, vamos tentar olhar este conhecimento, especialmente sobre a ótica das artes marciais.

No ambiente marcial, a importância do Ichi-go ichi-e aparece em vários momentos. Por exemplo, quando se reforça a idéia de que não existe um Keiko igual a outro; por tanto, se o aluno não compareceu a um determinado treinamento, aquele especificamente, nunca mais vai se repetir. As oportunidades de aprendizado, as interações que poderia ter tido com os colegas, os insights, tudo daqueles momentos foi perdido, não existe “vídeo tape” ou qualquer tipo de resgate tecnológico que nos propicie resgatar as vivências e experiências que poderíamos ter absorvido daquele treinamento. Como diria uma verdade Universal: “Você nunca pode se banhar na mesma água do rio, pois ela nunca é a mesma”. O rio da Vida não pára, está em eterna mudança. Como diz a tradição budista, “só existe uma coisa que podemos ter certeza no universo, é a eterna mudança, a impermanência, tudo no universo está sempre em eterna e permanente mudança, desde a partícula mais minúscula e simples até os organismos mais complexos como nós seres humanos. Tanto a pessoa com que você se relacionou ontem, como você mesmo, hoje não são mais os mesmos, seja em termos físicos ou aspectos psico-sociais, a sociedade, a família, os amigos, ou até a mídia, estão sempre exercendo alguma influência sobre o  nosso nível de consciência, nossa capacidade de empatia, estamos a todo o instante sofrendo influências do meio, sejam elas influências físicas, sejam influências psicológicas. Quanto mais caminharmos nessa linha de vislumbramento, mais vamos tomar consciência do valor e da importância de valorizar o presente.

Outro exemplo bem palpável está na prática das técnicas, dos Katas ou Katis. Dependendo da arte praticada, cada técnica que executarmos será única, terá os seus detalhes, as suas nuances; mesmo se pegarmos a mesma técnica como exemplo, podemos executá-la 5.000 vezes, nas 5.000 vezes ela vai ser diferente, nunca será igual. Por isso, e principalmente por isso, devemos tratar com reverência, respeito e atenção total ao momento de cada execução de técnica ou movimento, pois ela é única. Nunca se repetirá, pois sempre trará algo diferente.

O mais extraordinário, é que podemos levar este aprendizado e esta consciência a todas as nossas relações com o mundo. É assustador, mas ao mesmo tempo mágico, despertarmos para a consciência de que todos os instantes são únicos. Isto vale para as oportunidades que temos e que perdemos na vida. Tem uma expressão da cultura Gaúcha que diz: “O Cavalo encilhado só passa uma vez”. As oportunidades são raras e devem ser aproveitadas.

A percepção desta verdade universal, de que estamos sempre em eterna mudança, me faz lembrar as palavras de um pensador hindu chamado Krishamurti, por um outro viès ele nos diz que devemos sempre olhar tudo como se fosse a primeira vez e isto vale para qualquer coisa, desde uma simples pedra, uma planta, até uma pessoa. Assim ele disse: O pensamento construiu estes símbolos, imagens, ideias. Posso eu olhar, primeiro, a árvore, a flor, o céu, a nuvem, sem uma imagem? A imagem da árvore é a palavra que aprendi dando certo nome à árvore, diz sua espécie e lembra sua beleza. Posso olhar àquela árvore, àquela nuvem, àquela flor, sem pensamento, sem a imagem? Isso é bem fácil de fazer, se você já fez. Mas posso eu olhar sem imagem para um ser humano do qual sou íntimo, que considero como esposa, marido, filho? Se não posso, não existe relação verdadeira: a única relação é entre as imagens que nós dois temos.”  e ainda mais; “Embora você tenha me insultado, embora tenha me ferido, embora tenha dito coisas sórdidas sobre mim ou me elogiado, posso olhar para você sem a imagem ou a memória do que você me fez ou me disse?  Vejam a importância disto, pois apenas uma mente que retém as memórias de ferida, de insulto, está pronta para perdoar se ela tem essa inclinação de fato. A mente que não fica armazenando seus insultos, os elogios que recebe, não tem nada para perdoar ou não perdoar; e, assim, não há conflito.”
Numa tentativa de facilitar o nosso entendimento e evitar uma censura de nosso ego, ele cita o exemplo de uma Flor: Devemos olhar a flor como se fosse a primeira vez que a víssemos e não deveríamos nomina-la, por exemplo, olhar sem pensar isto é uma Rosa ou isto é tal coisa, por que ao fazermos isso estaremos trazendo para o presente todas as definições imagens e conceitos que temos sobre aquela planta, aquele objeto ou até àquela pessoa. Pelo que tenho percebido pela minha experiência é mais complicado exercitar isso nas nossas relações com pessoas, do que com aqueles que não são “iguais” a nós, talvez por isto Krishnamurthi começa com o exemplo da flor. Quando olhamos para uma pessoa, ao vincular-mos ela a um nome, trazemos àquele momento todas as lembranças, conceitos e pré-conceitos que temos dela

 

Para ter um novo tipo de consciência e de comportamento, devemos cultivar hábitos que transformem nossa relação com o mundo um destes é cultivar a atenção total ao presente, estar presente com todos os nossos sentidos, visão, audição, olfato, aliados à nossa percepção dos outros, com sensitividade e empatia.

 

Na prática do Aikido encontramos vários ensinamentos para a vida, as grandes oportunidades de nos tornarmos cada vez melhor surgem a todo o momento durante uma prática psicomotora, carregada de filosofia, como a do Aikido. Desde coisas mais óbvias, como não responder uma agressão com outra agressão, até as mais sutis como a prática da gratidão (GIRI), por isso cada treinamento é também uma oportunidade de crescimento como ser humano. Tudo que se pratica e se desenvolve dentro do tatame pode e deve ser levado para fora do Dojo. Para nosso melhor convívio social, com nossos semelhantes, com os outros animais e a natureza em geral.

 

Estas colocações me fazem lembrar das inúmeras vezes em que o seito (aluno), interrompe uma técnica no meio, porque acha que não está correta, então para e tenta começar tudo novamente. Esta é uma atitude equivocada, por vários motivos: primeiro, porque o praticante deve se habituar a fazer o movimento até o fim, pois numa situação real não haverá oportunidade de refazer o movimento, sendo uma questão de “agora ou nunca mais”; segundo, porque durante o treinamento o erro faz parte do aprendizado. O erro não deve ser execrado, ele é nosso professor, nós aprendemos com os erros, olhando eles de frente e tendo consciência deles é que vamos crescer, se o ignorarmos e o colocarmos “para baixo do tapete”, jamais cresceremos.

Não deixemos para depois. Vamos viver totalmente o presente, viver como se não existisse uma segunda chance, “agora ou nunca mais” ICHI GO ICHI E.

DESEJOS DE FELICIDADES

O ato de escrever para um grande amigo que me desejou felicidades neste Natal(?) e no ano que se aproxima, me inspirou a escrever a todos os amigos, alunos e pessoas com que compartilho ou já compartilhei, de alguma forma, o meu viver neste espaço/tempo que é o nosso mundo atual. Não vou desejar felicidades para vocês. Por quê? Porque tenho certeza que vocês, assim como eu e meu amigo, já perceberam, que a felicidade depende apenas de nós mesmos e, mais do que isso, depende de onde colocamos nossos valores, nossas metas.

Nossa felicidade sempre vai depender de nossas escolhas. De nossas escolhas de hoje, dependerá a nossa felicidade de amanhã, assim como o grau de felicidade que temos hoje foi determinado pelo que fizemos ou deixamos de fazer ontem, ela estará, indubitavelmente, interligada com a qualidade de nossas escolhas de ontem. Se colocamos nossos valores e nossas metas em “ter coisas” materiais e externas, facilmente conseguiremos, a médio e longo prazo, aumentar nossas chances de sermos infelizes, por outro lado se colocarmos o nosso foco em valores e metas interiores, criando hábitos que nos tragam mais saúde física, emocional e espiritual, com certeza estaremos investindo em felicidade. Todos os caminhos do conhecimento humano, nos indicam uma direção muito clara, que as vezes não percebemos por que estamos cegos pela ânsia de “ter coisas”.

A verdadeira felicidade não está no Shopping. Ela está em lugares que não precisamos ir de carro, pagar estacionamento e nem impostos, ela está dentro de nós, em nossa mente, ou, simbolicamente, em nosso coração, onde habita o nosso SER. Tanto a ciência, como a filosofia e os grandes movimentos espirituais, nos indicam “coisas imateriais”, que podemos “fabricar” dentro de nós através da criação de HÁBITOS transformadores.

HÁBITOS TRANSFORMADORES:

Perdão: Perdoar liberta, liberta seu “coração”, liberta sua energia mental e emocional, liberta seus sonhos, te liberta daquele ou daquilo que te machucou…

Gentileza: Ter um sorriso verdadeiro e expressar interesse e preocupação com as necessidades dos outros, melhora a nossa resiliência emocional e reduz a nossa tendência à depressão e à ansiedade, tornando nossas relações mais pró-ativas e verdadeiras

Respeito ecológico: “Por onde você passar, seja onde for e como encontrar, quando sair procure deixar melhor, nunca pior do que quando chegou”

Gratidão: Desenvolver o hábito da gratidão nos aproxima da percepção de totalidade, de que somos parte de tudo que nos cerca.

Pense coletivamente, o mundo já está cheio de individualidades: “Sozinho eu vou mais rápido, mas quando chego estou só. Quando em grupo, vamos talvez, mais lento, mas vamos mais longe e quando chegamos temos a companhia daqueles que nos acompanharam no trajeto.”

Pensem nisto e Boas Festas

FAZ, NÃO FALA

Escrever sobre pessoas que já não estão entre nós, sempre é uma tarefa trabalhosa. Mas temos que, ao mesmo tempo, compreender que existem pessoas que são eternas, sempre estarão em nossa lembrança e temos a obrigação de não deixar que as próximas gerações esqueçam este tipo especial de pessoa. Posso dizer que Kawai Shihan está entre estes. Um espírito diferente, incomparável, a dificuldade de encontrar um gabarito ou um tipo de termômetro com que possamos medir a existência dele ou de encontrar adjetivos onde enquadrá-lo, já nos dá a estatura e uma pálida dimensão de quem ele “É”. Não, este “é” não deve ser visto como um erro do autor, eu digo que ele é, por que o legado e as histórias que retratam o convívio com ele, jamais poderam ser esquecidos. Ele continuará sempre entre nós, seus filhos, os Aikidoistas do Brasil.

Kawai Shihan, nunca se interessou em aprender o nosso idioma, falava uma linguagem própria, sem verbos de ligação, preposições, artigos definidos ou indefinidos, etc. Mas em poucas palavras dizia muito e conseguia passar mensagens de profundo significado, tanto em termos filosóficos, quanto em termos de técnicas de Aikido, dois exemplos bem singelos das palavras de Kawai Shihan estão em duas frases lapidares. “Faz, não fala” e “Força, tira” e quase sempre após este tipo de frase, complementava com um “faz favor” o que denotava a sua gentileza, pois ele era firme mas gentil, firme como um Katana, mas ao mesmo tempo, suave como um Bambu.

Faz não fala: Significados iguais a esta frase, encontramos em diversas religiões e caminhos filosóficos, em nosso mundo. Podemos comparar com “quando tu deres esmola, não saiba a tua mão esquerda o que faz a tua direita” (Mateus 6). Bruno Espinelli: “ Por que falar é facil, mas fazer o que fala é tão dificil? se não for fazer não fale!”. Confúcio; “Aja antes de falar, portanto, só fale de acordo com seus atos.” Como vemos Kawai shihan estava bem acompanhado em sua visão de vida. Um causo: Certa vez eu estava no Dojo do Shihan, em um dia festivo em que iria acontecer um evento tradicional, a clínica de acupuntura, onde ele atendia e morava era no outro lado da rua, ele atravessou a rua e entrou no Dojo, para ver como estavam os visitantes que vinham de várias partes do Brasil e de outros países da América do Sul, quando ele entrou viu um rapaz varrendo as arquibancadas e os degraus da entrada e outros varrendo o Tatame e então falou bem alto “Konitchi wa, pessoas bonitas, trabalho bonito”. Nisto o rapaz que estava varrendo se aproximou dele com a vassoura na mão e disse “Shihan, estou varrendo o Dojo, vou varrer tudo aqui”, no que Kawai deu uma leve parada no seu caminhar e disse “FAZ, NÃO FALA, FAZ FAVOR”, e continuou a sua caminhada para dentro do Dojo, o rapaz perdeu uma bela oportunidade de permanecer calado, mas, por outro lado, talvez tenha aprendido uma grande lição.

Força, tira: Após algumas dezenas de anos de prática de Aikido, algumas pessoas começam a perceber a importância de estar relaxado para a execução das técnicas, ganhando em agilidade, explosão do movimento e habilidade de trabalhar com o Ki e como o estar tenso ou fazendo força muscular constante, nos tolhe o movimento, nos bloqueia e atrapalha o fluxo da energia. Todas as pessoas que presenciaram ao vivo como Kawai Shihan projetava dezenas de pessoas, num espaço de tempo de 10, 15 minutos, com o mínimo de esforço e sem cansar, jamais esqueceram e ,também, quando convidava qualquer pessoa para tentar segurá-lo e ele conseguia, facilmente, se desvencilhar e projetar estas pessoas com um mínimo de esforço, apenas com a respiração. Lembro também de uma demonstração que ele fazia, pedindo para uma pessoa estender o braço para a frente e tentar manter o braço esticado, então ele pegava um Shinai, espada de bambu usada no Kendo, e aplicava sobre o antebraço desta pessoa, uma pancada com um movimento de bastante vigor e força, apesar da dor da pancada a pessoa conseguia resistir, depois ele repetia o mesmo movimento com o Shinai no mesmo local, só que desta vez sem força, só com a energia e a respiração certa, a pessoa, instantaneamente, desabava no chão. Eu poderia ficar escrevendo durante muito tempo sobre outros preciosos momentos onde o poder do “FORÇA, TIRA”, estava presente.

A força da personalidade do nosso Shihan era tão marcante e envolvente, que 90% das pessoas que foram Uchi Deshi(Discípulo interno) dele adquiriram de alguma forma, este dialeto dele, esta particular maneira de falar, não sei se por admiração ou se por um mimetismo ou para facilitar a sintonia ou tudo isto junto e mais alguma coisa, não sei, não cabe a mim julgar o porque disto. No início eu achava engraçado e às vezes até um despropósito, mas com o passar de décadas, fui percebendo que isto tinha um significado muito mais profundo, que só quem conviveu anos como Uchi Deshi, ou algumas dezenas de anos como discípulo dele, é que tem condições de realmente compreender tudo isto, que a meu ver se resume em uma sintonia de espíritos que desenvolvem e trabalham com o desenvolvimento e o desabrochar desta energia que os Japoneses chamam de KI, os Chineses de CHI, os Indus de Prana ou se quisermos simplificar e modernizar podemos chamar de ENERGIA UNIVERSAL ou ENERGIA QUANTICA

DEZ ATITUDES POSITIVAS PARA O CAMINHO DO AIKIDO

1ª O Local:

Ao escolher um Dojo, para treinar, analise se o responsável tem certificação do Hombu Dojo Japão e autorização de uma organização regional e que esta, tenha um Sensei responsável com, com no mínimo, 3º Dan ( certificado pelo Hombu) e certifique se que este esteja vinculado e monitorado por uma organização nacional, com sede no Brasil ou no País, em que você estiver, e que por sua vez tenha vínculo e reconhecimento do Hombu Dojo, Japão(a organização internacional que administra o Aikido no mundo). Isto vai lhe preservar de cair na mão de aventureiros e dará uma qualidade melhor ao seu aprendizado.

O mais importante ao escolher uma escola é avaliar sua história e a sua dinastia ou linha hierárquica, tanto do Dojo quanto do Sensei responsável. Hoje em dia existem muitos aventureiros, então use o seu bom senso. O vínculo com um Sensei é como o vinculo à uma nova  família.
RESUMO: Dojo, instrutor com certificado de grau internacional > Organização regional com responsável no minimo 3º dan > Organização nacional vinculada ao Hombu dojo.

 

2ª O Ritmo:

Definir um ritmo de treino em termos de frequência: seja de uma, duas ou três vezes por semana, não importa, o importante é manter uma constância. A irregularidade é muito prejudicial ao desenvolvimento do aprendizado. Ritmo é importante não só ao executar as técnicas como  também na periodicidade dos Keikos(treinos).

 

3ª O Haraguei

Trabalhar e investir na tarefa de desenvolver a capacidade de sentir e perceber o outro. No caso de um treino de Aikido, o outro tanto é aquele que desempenha o papel de atacante/agressor (Uke), como também será, em outro momento, aquele que vai receber o seu ataque, que vai se defender(Nague) usando a técnica adequada. A percepção do(s) outro(s) e por extensão do mundo exterior (isto é, de tudo aquilo que está fora de nós) é uma arte, que qualquer um pode desenvolver.

Esta arte possui várias facetas e várias nuances, como empatia, instinto, sexto sentido, leitura corporal ou “mental”. O ambiente de treino de um keiko é muito propício para exercitarmos e desenvolvermos a nossa capacidade de sentir; de perceber quando o outro vai atacar; o grau de força que ele vai usar; o sentimento que ele está colocando no ataque. Podemos até chegar a perceber a energia e o sentimento do grupo naquele dia específico.

A maior vantagem de um ambiente de treino para o nosso desenvolvimento é o seu aspecto “laboratório”; nele nós podemos nos dar ao luxo de errar e assim descobrir aquilo que funciona, e o que pode ser sempre aperfeiçoado, brindando a todos com pequenas descobertas que vão com o tempo melhorando nossa autoconfiança e a crença em nosso sentir.

A “mágica” está ao alcance de todos, acredite.

A primeira vista pode parecer sem importância o acreditar, mas com o tempo você vai descobrindo o poder que a crença te dá. Ela é uma ferramenta importante que vai potencializar todos os seus fazeres. O nosso corpo/mente é mágico, ou, como dizem alguns neurocientistas, ele é “ingênuo” e obediente, e por isso, fácil de ser adestrado. Ele procura trabalhar para satisfazer todas as nossas crenças, por isso muitos sábios avisam: -“cuidado com o que você pede ou acredita”. Se acreditar em doenças vai tê-las, se acreditar em infelicidade ela será uma prioridade em sua VIDA. Portanto selecione crenças positivas de crescimento e de empoderamento, qualifique as suas  crenças.

 

4ª “MU SHIN” Mente vazia

Ao entrar no Dojo, procure deixar o seu dia no lado de fora. Se for possível troque o seu calçado por um chinelinho (Zori) já na entrada do Dojo e faça neste momento o seu primeiro “Hei”, pedindo mentalmente licença para entrar. Isto lhe ajudará a simbolizar e significar a atitude de deixar o mundo lá fora.

Deixe lá fora o seu estresse, as contas que ainda não pagou, os pensamentos negativos, suas dúvidas e incertezas, mas também, e acima de tudo, suas certezas, deixe lá fora os seus títulos, sejam eles honoríficos, de estudo ou de cunho militar ou religioso. Todas estas coisas só vão lhe atrapalhar no momento do treino. Entre no treino com uma mente de aprendiz, mente vazia. Acredite, sua mente pode até ter vários terabytes, mas se estiver cheia, não poderá apreender o novo. Não se aprende uma arte marcial falando, reeduque-se para ouvir, ver e repetir a forma ensinada. O fazer é mil vezes melhor do que o falar.

 

5ª “Giri” Gratidão

O sentimento de respeito e gratidão é um dos mais valiosos. Cultivar esta atitude é crucial para construir um sólido caminho tanto no Aikido como na vida. Está comprovado cientificamente que cultivar o sentimento de gratidão traz mais benefícios ao que agradece do que àquele a quem se agradece; isto sem contar o ambiente de energia positiva que é produzido e do qual todos se beneficiam. A principal e primeira gratidão que devemos cultivar dentro do Budo é a todos aqueles que vieram antes de nós, pois todo o conhecimento e tradição foi por eles construído. Da mesma maneira, no âmbito familiar devemos dirigi-lo aos nossos ancestrais, pois toda a nossa bagagem cultural, social e genética foi aperfeiçoada por eles e entregue à nossa responsabilidade.

 

6ª Atenção total, antecipação e gentileza

Pense, qual a sua missão? Não tivemos a sorte de vir a este mundo apenas para “Ver a Banda Passar”, afinal você ganhou uma corrida contra milhões de outros espermatozóides e o prêmio é a sua atual existência, sem contar o fato de que todos os seus ancestrais tiveram a sorte ou a competência de chegar a uma idade de serem aptos para a reprodução. Nossa espécie passou por milhares de anos de aperfeiçoamento, e em respeito a tudo isto, devemos buscar ser úteis aos outros seres, à sociedade, ao mundo em que vivemos. Podemos ser úteis sendo proativos, desenvolvendo o olhar e a percepção para o que precisa ser feito, e com gentileza no coração.

A tradição dentro da prática e da filosofia do Aikido ensina a importância de desenvolver a antecipação. No caso de um ambiente marcial, ou mediante os perigos da vida, desenvolver a capacidade de antever algo é uma qualidade de sobrevivência, mas que não precisa ser de prever o futuro em horas, dias ou meses. Basta muitas vezes um segundo de antecipação para salvar uma vida. Busque primeiro este segundo; quando já o tiveres, vá em busca de mais, um de cada vez.

Mas não pense que os benefícios deste tipo de treinamento se esgotam aqui, hoje em dia no mundo competitivo em que vivemos, ter o hábito da antecipação e ser proativo é uma qualidade que vai destacá-lo e diferenciá-lo em qualquer atividade. Mas cuidado a soberba não é uma boa companheira, busque ser um proativo gentil.

 

7ª Persistência

As dificuldades em nosso caminho não são barreiras, são chances e oportunidades de aprendermos e nos aperfeiçoarmos. Devemos sempre lembrar que o aprendizado não é uma estrada reta e com uma inclinação constante em direção à excelência; pelo contrário, é uma estrada sinuosa e cheia de altos e baixos, com subidas gloriosas e descidas assustadoras recheadas por algumas planícies de incertezas e dúvidas. Mas com certeza este caminho tortuoso é o caminho que leva à excelência. Porém ele só brinda aos persistentes, aos que não desistem.

 

8ª Higiene

A higiene em todos os níveis: espiritual, mental e corporal constrói ambientes melhores. Quanto mais pessoas buscarem esta atitude, melhor será o ambiente no treino, na familia e no trabalho. Em suma, teremos um mundo melhor. Uma coisa tão simples, mas se cada um fizer a sua parte já estará dando uma grande contribuição.

 

9ª Definir objetivos

Ao iniciar no caminho do Aikido, o Seito ( aluno/discípulo ) deve definir em sua mente um objetivo, uma meta. Isto é de suma importância. Porém vale ressaltar que metas e objetivos não são eternos e diante de algumas circunstâncias podemos redefini-los.

Para qualquer projeto de vida, sobressai a importância de definirmos o que queremos, aonde queremos chegar. Se não definirmos os nossos objetivos e os rumos de nossa vida, “alguém” vai definir por nós. Claro que existe muito de imponderável no nosso caminho, dificilmente vamos acertar 100% no alvo, mas se deixarmos ao acaso com certeza não vamos construir nada significativo. O mínimo que podemos fazer é definirmos a nossa intenção, nos dedicar e preparar para isto.

 

10ª Treinar, treinar, treinar…

Parece falar o óbvio, mas não é. Com o advento da internet, YouTube e todas as facilidades de acesso à informação e a imagens, percebe-se que muitas pessoas dão mais ênfase ao ver do que ao fazer. Uma atividade psicomotora como o Aikido requer para o seu aprendizado não apenas o ver, mas muito, muito mais o praticar. Somente a pratica é que vai dar as condições para cada um desenvolver o seu Aikido. Quando você apenas vê, está registrando a informação como se estivesse escrevendo algo na areia: qualquer vento ou água irá apagar este registro. Quando você pratica, executa o movimento, você está riscando esta informação levemente na pedra; se repetir este movimento centenas de vezes, este registro já começará a ficar mais definido, a marca será cada vez mais profunda. Agora imagine como será depois de repetir milhares de vezes: o resultado é que esta informação, este registro passará a fazer parte de você e da sua essência. E o que é mais importante. EM CADA MOVIMENTO APREENDIDO DO AIKIDO, VOCÊ ESTARÁ REPROGRAMANDO SUA MENTE, ESTARÁ RE-PROGRAMANDO PARA NÃO RESPONDER UMA AGRESSÃO COM OUTRA AGRESSÃO, MELHORANDO SUA PROATIVIDADE, SUA EMPATIA E MUITAS OUTRAS ATITUDES POSITIVAS. TODOS OS MOVIMENTOS DO AIKIDO, SERVEM COMO METÁFORAS TRANSFORMADORAS PARA A NOSSA VIDA.

A GRANDE FAMÍLIA DE IQUIQUE

SEMINÁRIO EM IQUIQUE NO CHILE

Neste último semestre do ano tive a honra de ser convidado a ministrar um Seminário de Aikido na Cidade de Iquique, no Chile, nos dias 24,25 e 26 de novembro, ao qual compareci com satisfação, principalmente pela oportunidade de fazer novos amigos.

O Aikido no Chile, vinculado à União Sul Americana de Aikido ( Kawai Shihan),  é dirigido e administrado pelo amigo Orlando Galicia Sensei, Presidente da União Chilena de Arte Aikido Kawai e Dojo Sho da Academia Reshin Kawai Shihan de Iquique, Chile.

Dentre as tantas coisas boas que encontrei em Iquique, a que mais me tocou e marcou meu coração, foi a profunda ligação que Orlando Galicia formou com seus discípulos. Galicia Sensei tem, se não me falha a memória, oito filhos que praticam ou já praticaram o Aikido alem de mais de uma dezena de netos que sem dúvida ainda praticarão Aikido no Futuro, visto que alguns já frequentam as aulas de Aikido infantil. Isto demonstra o seu profundo sentimento de família, e de família unida, e isto perpassa aos seus diversos alunos chilenos(  filhos não sanguíneos ).  Naqueles três dias percebi o quão forte e valorizado são os sentimentos de família que todos os praticantes me passaram, de uma grande família Aikidoista. Considero este um dos grandes propósitos de uma organização da nossa arte, formar laços fortes de amizade, propiciando um convívio social pleno tanto dentro do Tatame, quanto fora.  Visto que os nossos objetivos de desenvolvimento como pessoas humanas, harmoniosas e com alta capacidade de levar Amor e crescimento aos que nos cercam, não se limita ao Tatame, estes obtidos devem ser estendidos para fora do Tatame para todas nossas relações sociais.

A mim, me pareceu, que Galicia Sensei, formou uma família  que esta se tornando “Uma Grande Família Aikidoista”. Na cultura Japonesa se usa a expressão “Ichi Ban” para coisas ou pessoas que são as melhores ou as primeiras em uma lista de classificação, por exemplo; no futebol Pelé é Ichi Ban para os Japoneses, então gostaria de dar à Galicia Sensei o titulo de “Ichi Ban em uma lista de Senseis voltados à familia”.

Grato à todos

DA IMPORTÂNCIA DAS PERGUNTAS

 

Neste fim de semana tive a honra e o prazer de participar de um evento em Curitiba, brilhantemente organizado por Lincoln Sensei e seu grupo, com a colaboração e participação de outros grupos e Dojos vinculados a organização criada pelo nosso saudoso Kawai Shihan, o introdutor do Aikido no Brasil.

Durante este grandioso evento tive a felicidade de exercer e praticar um hábito muito salutar e útil que tenho procurado adotar no meu dia a dia, visando um melhor desenvolvimento como ser humano e, acredito, extensivamente positivo a todos os envolvidos em minhas relações, que é o ato de fazer questionamentos (ou “na dúvida pergunte”). Explico: andava curioso com uma nova forma de fazer ukemis que algumas pessoas andam fazendo. Como neste evento estavam presentes algumas destas pessoas, vislumbrei a oportunidade de tentar entender melhor a questão, pois queria, primeiramente, entender a origem da mudança. Não vou entrar em detalhes técnicos sobre a mudança em si, porque não é este o propósito deste texto. A ideia é jogar luzes na importância de criarmos o hábito de fazermos perguntas.

Na medida em que me questionei sobre a validade da “inovação” na prática de algo já tradicional no Aikido, procurei fugir da facilidade de apenas fazer uma crítica vazia, principalmente por não ter elementos para melhor entender a questão. Diante disso chamei o grupo todo ao qual estava ministrando o Keiko (treino) e perguntei, de coração aberto, o porquê daquele formato. Já adianto: foi uma experiência muito gratificante conversar com todos ali presente e perceber, nos olhos daquelas pessoas, que todos nós compartilhamos da mesma energia e das mesmas preocupações, ou seja, buscar a prática de um Aikido cada vez mais inclusivo, respeitoso e harmonioso, principalmente entre seus instrutores e Sensei(s), um ambiente muito salutar.

 

Durante o questionamento, conseguimos conversar e apresentar ideias sem ranço e sem dogmas e sem que nenhum de nós, tenha se alçado a “dono da verdade”. Olhando no fundo do olho de cada um dentro do tatame não percebi contrariedades, mas disposição a um diálogo sincero. Apesar de sairmos ainda com nossas próprias convicções, novas perspectivas surgiram para meditar sobre o assunto abordado.

Acredito que o hábito de fazer perguntas e escutar as respostas com coração aberto  nos faz bem, assim como em um keiko o Uke executa um ataque sincero (questionamento) e um Nague o recebe (yudo) executando alguma técnica(resposta) e reage a este ataque com um Aikido repleto de seriedade, atenção e sinceridade.

 

Já disse alguém no passado que “o mais importante são as perguntas” pois as respostas surgem após algum questionamento. Podemos até dizer que a pergunta sincera é a mãe do conhecimento. Às vezes nos foge a chance de fazer a pergunta no momento certo, mas isso é um mentalismo nosso. Se hoje não foi possível efetivar o questionamento não importa, o mundo gira. A oportunidade para a pergunta poderá aparecer novamente. Por exemplo: – se ontem alguma pessoa teve um comportamento estranho ou estava fora de seu centro e não foi possível ter com ela um “diálogo” respeitoso, não importa. Quando surgir nova oportunidade, façamos então, as perguntas necessárias. Remoer dúvidas e suposições, só serve para criarmos energias negativas, a atitude positiva é trazer as dúvidas à luz, ao ar, ao convívio com seus semelhantes, com seus iguais.

Para concluir, a mensagem que fica é: Não devemos criar as minhocas da ignorância em nossas cabeças, devemos cultivar as perguntas certas para as horas próprias.

 

Grato e até breve

 

Vargas Filho
Whatsapp: +5551982274553

O “SURTO”

Meus amigos, hoje vou publicar um alerta de utilidade pública.

Segundo fui informado, anda pela nossa cidade um surto de Pneumonia, ela começa de uma forma dissimulada, como se fosse uma Virose, enganando até alguns médicos “afoitos” que logo simplificam para uma Virose, principalmente os do SUS, ela inclusive nos leva a não votar ou votar em qualquer coisa. Soube inclusive de casos que por falta de um melhor diagnóstico, agora estão até internados em CTI, para tratamento forte.

No meu caso felizmente tomamos a iniciativa de no segundo dia de febre realizarmos, por conta própria, um Hemograma Simples, recomendo, é barato e indolor, não adianta ficar reclamando do governo ou qualquer coisa parecida com isto, temos que agir, uma desobediência civil seletiva por exemplo. o resultado do Exame, me levou a procurar um médico particular, que então, desconfiou do meu Pulmão e pediu exames complementares que levaram ao diagnóstico, a pirâmide basal do meu pulmão direito com problemas, tá igual à Pirâmide Social brasileira, precisando de uns concertos. Parei de pagar meu Plano de Saúde e coloquei o dindin numa poupança para emergências, já que é crime não pagar impostos, acho que fiz um arremedo de “desobediencia”, pensei fora da caixa, pense, PENCE. 

Assim fiquem atentos, “O preço da liberdade é a eterna vigilância”, mas sem conotações políticas. Ou sim, não sei, tô meio confuso, deve ser por causa da tosse horrível que tá resistindo a me largar.

Lembranças

 

Não sei bem por que, mas sempre tive uma fascinação por desmontar coisas. No início estraguei  alguns relógios, despertadores e outros objetos domésticos para ver como funcionavam e acredito que uma consequência ou talvez causa desta curiosidade foi o fato de adquirir uma ótima visão espacial que me facilitou a trabalhar com meu Avô na sua oficina de maquinas de escritório, maquinas de datilografia e antigas máquinas eletromecânicas de calcular, em algum momento nos anos 70. Acredito também, que o fato de ter desenvolvido uma boa visão espacial, ou talvez, ja ter nascido com ela, ajudou a compreender a mecânica dos movimento nas artes marciais, me levando também a outras atividades psicomotoras como o Yoga e terapias alternativas em que se tornava importante tal qualidade.

Desde os oito anos já havia se manifestado outro elemento que hoje parece fazer parte da minha personalidade, aquilo que modernamente chamam de veia “empreendedora”, pois “aquele piá de calças curtas” juntava em casa jornais velhos, garrafas e metais para vender a um carroceiro que passava pelas ruas do IAPI gritando “Compro jornais, vidros e ferro-velho!!” colocando todos os itens que eu havia juntado e pesava em uma balança de latão que hoje só se vê em antiquários. Mais alguns anos e outra fonte de renda surgiu quando, aos domingos que me eram livres, ia engraxar sapatos no estádio do Zequinha (sede do Esporte Clube São José de Porto Alegre). Isto era muito divertido, ao mesmo tempo que trabalhava fazia algo aliado a uma certa adrenalina, por que tinha que entrar no estadio sem pagar, pulando a cerca ou achando uma maneira de enganar os “guardas”, estas peraltices dariam muitas estorias. Sempre quis ganhar meu sustento fazendo algo que gostava e que fosse prazeroso.

Meu Pai foi líder sindical numa época difícil que durou do inicio dos anos 50 até o meio da década de 70, período de muita perseguição política. Ele foi preso várias vezes sendo a primeira nos anos 50 quando o Presidente Getúlio suicidou-se e alguém tinha que pagar o “Pato”, época que se iniciou uma série de perseguições políticas. Quando ele não estava preso, estava viajando, participando de reuniões sindicais e participando de manifestações e reuniões, sempre apoiando ações em benefício dos trabalhadores e dos necessitados. Era um idealista, sempre preocupado com as condições de miserabilidade do Povo, ainda que com tamanha dedicação sua própria família estivesse passando por necessidades financeiras.

Quando tinha 13 anos, a única renda fixa familiar era o pequeno  salário de minha mãe, escriturária da Secretaria do Trabalho. Como estávamos com dificuldades financeiras, fui trabalhar no IRB (Instituto de Resseguros do Brasil) como Office-Boy (Mensageiro), eis que naquela época a legislação permitia um adolescente trabalhar com tal idade, nesta época, em função do trabalho, tive que estudar à noite. Está foi uma das poucas vezes em toda a minha vida trabalhei como empregado, 90% do tempo, meu sustento veio de atividades autônomas  e em alguns períodos com mais de um empreendimento ao mesmo tempo. Durante muitos anos trabalhei com terapias alternativas como Shiatsu, Reflexologia e Bioenergética, paralelamente dando  aulas de Judo e administrando uma loja na Assis Brasil onde criei um sistema de trocas de mercadorias onde a ideia era “troque o que você tem e não precisa, pelo que você não tem, mas precisa”. O nome da Loja era ESCAMBIO, inspirada no primeiro tipo de comércio que a humanidade conheceu, o Escambo (trocas). Ainda fui proprietário de uma Serralheria e outras atividades menos significativas.

Comecei a lembrar destes fatos em função de uma noticia que li onde relatava um estudo feito com uma série de artistas e esportistas em uma faixa de idade entre 06 e 38 anos, concluindo que crianças que tiveram autonomia para escolher o que estudar ou praticar (na pesquisa falava em tocar algum instrumento musical, mas é válido para esporte ou profissão) que não fosse uma “obrigação” ou tivesse como motivação satisfazer os desejos de algum dos Pais, tiveram melhor progresso e melhor desenvolvimento cognitivo.

Esta leitura me fez recordar a Mãe maravilhosa que eu e meu irmão tivemos na nossa infância e adolescência, por ter sempre, na medida do possível, nos deixado à vontade e com uma certa autonomia  (aturando inclusive os ensaio, em nossa casa no IAPI da “Banda no estilo Beatles” que criamos por volta dos 15 anos chamada “Os Tímidos”). Dona Hirma ainda foi condescendente com os meus precoces “delírios” de Filosofia Oriental,  Yoga, Terapias alternativas e Artes Marciais (desde os 13 anos já praticava Judo). O quadro não estaria completo sem a participação de meu irmão com suas experiências de Professor Pardal elê estudava na Escola Técnica Parobé e sempre vinha para casa com novidades que tentávamos por em prática, lembro de um a Galena que foi construída em um quartinho que tínhamos no pátio da casa (um depósito na verdade), nele realizávamos algumas experiências “cientificas”. Uma vez quase botamos fogo no Contador(Relógio) de Luz fazendo uma experiência de criar um Arco Voltaico com grafite, um mini aparelho de solda, potencialmente perigoso.

Voltando ao estudo mencionado mais acima, este se baseou no que especialistas chamam de autonomia – fazer algo por seus próprios valores e crenças e não pelos dos outros.  Revendo minha experiência de vida, não tenho como não concordar que Pais controladores fazem com que seus filhos não tenham autonomia, forçando a fazer atividades das quais não gostam e não curtem.

Felizmente minha mãe não era do tipo controladora e meu pai não era do tipo que impõe o desejo de que seus filhos sejam uma continuação de si mesmo, nem tentava fazer com que os filhos realizem aquilo que não conseguiram realizar. Meu Pai, no pouco tempo que estava em casa, não chegava a interferir relevantemente em nosso dia a dia.

Os Pais e Mães que tentam direcionar os filhos em função de seus gostos e desgostos, o fazem muitas vezes por uma equivocada ideia de amor. Isto, infelizmente, não é amor, pois o amor liberta.

A atitude controladora de alguns Pais, hoje alavancada por uma ansiedade e um desejo doentio de que o filho seja um sucesso (seja lá o que isto represente) tem levado seus filhos cada vez mais aos analistas ou aos braços de algum Guru salvador. Confundem felicidade com sucesso, pensando que o sucesso financeiro ou outro qualquer os levará à felicidade. Talvez muito tarde vão descobrir que a felicidade não vem de coisas externas, dos bens materiais ou dos títulos conquistados. Ela vem de tesouros que estão o tempo todo no interior de cada um, esperando para ser trabalhado e trazido à luz da consciência, desabrochando valores e sentimentos positivos como honradez, compaixão e um sincero sentimento de ser útil ao próximo e ao “meio”, que é o verdadeiro sentido de nossa existência.  

Até breve

 

 

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UM TEXTO TAOISTA

Pequeno prólogo: A palavra TAO neste texto pode muito bem ser substituída por “Forcas do Universo” ou qualquer outra que o leitor achar mais conveniente.

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Texto de autor desconhecido

Pense no que vai dizer antes de abrir a boca. Seja breve e preciso, já que cada vez que deixa sair uma palavra, deixa sair uma parte do seu Chi (Ki, energia). Assim, aprenderá a desenvolver a arte de falar sem perder energia.

Nunca faça promessas que não possa cumprir. Não se queixe, nem utilize palavras que projetem imagens negativas, porque se reproduzirá ao seu redor tudo o que tenha fabricado com as suas palavras carregadas de Chi (Ki, energia).

Se não tem nada de bom, verdadeiro e útil a dizer, é melhor não dizer nada. Aprenda a ser como um espelho: observe e reflita a energia. O Universo é o melhor exemplo de um espelho que a natureza nos deu, porque aceita, sem condições, os nossos pensamentos, emoções, palavras e ações, e envia-nos o reflexo da nossa própria energia através das diferentes circunstâncias que se apresentam nas nossas vidas.

Se se identifica com o êxito, terá êxito. Se se identifica com o fracasso, terá fracasso. Assim, podemos observar que as circunstâncias que vivemos são simplesmente manifestações externas do conteúdo da nossa conversa interna. Aprenda a ser como o universo, escutando e refletindo a energia sem emoções densas e sem preconceitos.

Porque, sendo como um espelho, com o poder mental tranquilo e em silêncio, sem lhe dar oportunidade de se impor com as suas opiniões pessoais, e evitando reações emocionais excessivas, tem oportunidade de uma comunicação sincera e fluída.

Não se dê demasiada importância, e seja humilde, pois quanto mais se mostra superior, inteligente e prepotente, mais se torna prisioneiro da sua própria imagem e vive num mundo de tensão e ilusões. Seja discreto, preserve a sua vida íntima. Desta forma libertar-se-á da opinião dos outros e terá uma vida tranquila e benevolente invisível, misteriosa, indefinível, insondável como o TAO.

Não entre em competição com os demais, a terra que nos nutre dá-nos o necessário. Ajude o próximo a perceber as suas próprias virtudes e qualidades, a brilhar. O espírito competitivo faz com que o ego cresça e, inevitavelmente, crie conflitos. Tenha confiança em si mesmo. Preserve a sua paz interior, evitando entrar na provação e nas trapaças dos outros. Não se comprometa facilmente, agindo de maneira precipitada, sem ter consciência profunda da situação.

Tenha um momento de silêncio interno para considerar tudo que se apresenta e só então tome uma decisão. Assim desenvolverá a confiança em si mesmo e a Sabedoria. Se realmente há algo que não sabe, ou para que não tenha resposta, aceite o fato. Não saber é muito incômodo para o ego, porque ele gosta de saber tudo, ter sempre razão e dar a sua opinião muito pessoal. Mas, na realidade, o ego nada sabe, simplesmente faz acreditar que sabe.

Evite julgar ou criticar. O TAO é imparcial nos seus juízos: não critica ninguém, tem uma compaixão infinita e não conhece a dualidade. Cada vez que julga alguém, a única coisa que faz é expressar a sua opinião pessoal, e isso é uma perda de energia, é puro ruído. Julgar é uma maneira de esconder as nossas próprias fraquezas.

O Sábio tolera tudo sem dizer uma palavra. Tudo o que o incomoda nos outros é uma projeção do que não venceu em si mesmo. Deixe que cada um resolva os seus problemas e concentre a sua energia na sua própria vida. Ocupe-se de si mesmo, não se defenda. Quando tenta defender-se, está a dar demasiada importância às palavras dos outros, a dar mais força à agressão deles.

Se aceita não se defender, mostra que as opiniões dos demais não o afetam, que são simplesmente opiniões, e que não necessita de os convencer para ser feliz. O seu silêncio interno torna-o impassível. Faça uso regular do silêncio para educar o seu ego, que tem o mau costume de falar o tempo todo.

Pratique a arte de não falar. Tome algumas horas para se abster de falar. Este é um exercício excelente para conhecer e aprender o universo do TAO ilimitado, em vez de tentar explicar o que é o TAO. Progressivamente desenvolverá a arte de falar sem falar, e a sua verdadeira natureza interna substituirá a sua personalidade artificial, deixando aparecer a luz do seu coração e o poder da sabedoria do silêncio.

Graças a essa força, atrairá para si tudo o que necessita para a sua própria realização e completa libertação. Porém, tem que ter cuidado para que o ego não se infiltre… O Poder permanece quando o ego se mantém tranquilo e em silêncio. Se o ego se impõe e abusa desse Poder, este converter-se-á num veneno, que o envenenará rapidamente.

Fique em silêncio, cultive o seu próprio poder interno. Respeite a vida de tudo o que existe no mundo. Não force, manipule ou controle o próximo. Converta-se no seu próprio Mestre e deixe os demais serem o que têm a capacidade de ser. Por outras palavras, viva seguindo a via sagrada do TAO


Caso tenha gostado deste assunto, você também pode gostar de ler nosso texto ( Silêncio como opção) publicado neste blog em abril de 2016.