O SILÊNCIO COMO OPÇÃO

 

Permita por favor

 

Hoje, em 2016, estou revisitando um texto de 2008, quando reviso e atualizo algo que escrevi, a algum tempo, noto que isto me traz um sentimento de renovação.

Não sei se estou escrevendo sobre o silêncio no sentido explicito ou de um modo figurado, mas acredito que de alguma forma o que serve para um serve para todos, o que esta no micro também se refere ao Macro. Mas de qualquer forma o que me leva a escrever não é o mais importante, na verdade o que importa é de que forma ele se encaixa na história de vida, nos valores e nos princípios de quem ler. Penso que este tema é muito atual, num momento tão complicado como o atual.

Escrever sobre o Silêncio me faz lembrar de uma frase de Confúcio: “O silêncio é um amigo que jamais atraiçoa.”

O Silêncio aqui pode se referir à ação, ou melhor dizendo, à ausência desta. Somos “inducados” ou “formatados”, que é uma expressão do momento, a sempre responder, quando inquiridos, solicitados ou “provocados”, isto se apoia também em um instinto básico reflexivo onde a toda ação corresponde uma reação. Se o animal tem sede, ele bebe; se tem fome, come, se esta sob grave ameaça, enfrenta ou foge, estes são os mecanismos mais básicos e primitivos. Quanto mais primitivo for o ser vivo, mais ele será refém dos instintos básicos. Por outro lado o “Ser humano”, teoricamente, é a espécie que esta mais distante desta mecânica, em função de um processo acelerado de desenvolvimento cultural e social, principalmente nos últimos 500 anos. Distantes, mas não libertos totalmente desta influência, pois a nossa bagagem genética ainda carrega os mecanismos primitivos que eram importantes, naquele contexto, importantes para a nossa sobrevivência como espécie. Mas o mundo mudou, o contexto hoje é outro, e esta mudança aconteceu em uma velocidade muitas vezes superior às transformações genéticas. Hoje, não temos mais os grandes predadores, eles eram tremendamente violentos e selvagens, mas eram previsíveis, a sua violência era da sua própria natureza, ao encontrar um o homem sabia o que esperar, e portanto aprendia como agir, mas o predador de hoje é o próprio homem, um homem doente, doente psicologicamente e socialmente, o qual, quando encontramos pela frente, geralmente não se pode fazer nenhum prognóstico. Ele é uma bomba armada para explodir a qualquer momento, sem lógica e sem sentido, pois a sua violência, não é fruto apenas da sua natureza, é fruto do seu medo da sua insegurança e da sua confusão mental.

Acredito que todos nós temos as condições biológicas de assumirmos, por escolha, a condição de um ser superior e responsável, o mote para isto, seria; nós em primeiro lugar e num segundo momento levados por um sentimento novo, trazido pela civilização, a empatia. Tudo depende de escolhas, e devemos necessariamente, praticar a escolha do coração, para isto devemos parar de agir baseados na opinião da maioria, como falou Mark Twain, “sempre que estivermos por muito tempo ao lado da maioria devemos ficar preocupados e dar uma parada para avaliar melhor”. Atualmente somos escravos do Marketing e da Mídia, somos todos “vaquinhas de presépio”, ou se quisermos uma imagem mais realista, somos como moscas comendo o lixo, isto por que nos deixamos levar pelos valores e necessidades que a mídia do consumismo nos aponta como a melhor ou a que vai nos fazer mais felizes. Isto acontece tanto a nível de consumo material, quanto a valores morais, filosóficos ou Políticos.

Esta “EDUCAÇÃO”(EduCere) de dentro para fora, pode começar pelo exercício do silêncio, o silêncio aqui, não se refere apenas à ausência de som, mas a um silêncio mais abrangente, a um Silêncio da mente consciente, o silêncio da ação, a uma inação.

Ter a opção da não resposta automática, é uma característica do ser superior, o automatismo instintivo pertence aos seres primitivos. Se alguém nos empurra, por que devemos empurrar de volta? Se tivermos uma sensação de vazio, por que devemos buscar preenche-la, imediatamente?

Se alguém nos questiona em algo, porque devemos responder com presteza?  

Onde está registrada esta lei, de que temos que responder a todas as perguntas a todos os estímulos ou a toda e qualquer agressão. Temos que REaprender que tudo depende de nós, de nossa escolha, não existe apenas a reação ou a resposta, também é nossa, a opção pela não ação, pelo silêncio. Não somos obrigados a nada, nem a responder perguntas e nem a atender ao Messenger, WatsApp, Face ou Celular.

Em períodos como o que estamos passando agora, isto fica bem claro , onde amizades estão sendo rapidamente destruídas, apenas por diferenças de opiniões e por uma pressa quase doentia em responder e declarar explosivamente, as nossas ideias e sentimentos.

Não caia na armadilha da resposta imediata, você tem direito ao Silêncio, à não ação como opção. Experimente o poder do silêncio.

A opção de não ligar a televisão, ou de ligar não por que todos estão ligando para ver um Big brother, ou  uma novela do momento, mas ligar porque quer informação e cultura, ou ir assistir um filme “oscarizado, apenas porque a maioria, levada pela mídia paga, está indo assistir, deixe de ser um boi na tropa apenas. Devemo usar a tecnologia a nosso favor, como bem disse A. Einstein: “Por que os avanços científicos e tecnológicos dão tanto conforto, tornando nossas vidas mais fáceis, mas não nos tornam mais felizes? A resposta é simples: é porque ainda não aprendemos a usá-los com inteligência.”

Estas questões não servem apenas para a nossa relação com o nosso mundo exterior, mas valem também para avaliar as nossas reações às nossas compulsões e prazeres, não quero com isto dizer que não devemos dar vazão a estes sentimentos, mas devemos adotar uma condição superior, devemos ao menos saber de onde eles vieram e a que propósito servem, já que apenas se deixar levar pelos anseios e sentidos, não é uma condição de um verdadeiro ser humano, de um ser superior, isto qualquer animal faz. Como já disse alguém: “O homem é o único Ser que come sem ter fome, bebe sem ter sede e mais ainda, fala sem ter nada para dizer”.

Pense, pense até que ponto você está agindo por inércia social, se deixando levar pelo movimento de grandes grupos, afinal você não é um apenas mais um boi na manada ou uma formiga no formigueiro, vamos aproveitar que o Carnaval já passou e tirar da cabeça esta necessidade de fazer parte de um Bloco. Aliás, fica muito claro enxergar, como surgiram os grandes erros da humanidade, quando milhares e milhares de pessoas foram cegadas, por um proselitismo de falsos valores. A história da humanidade, está cheia de exemplos deste tipo de fenômeno, sempre que alguém aproveitou uma situação de crise ou um sentimento de baixa estima de um grupo, povo ou nação, somados a um líder carismático e a uma boa propaganda, foram criadas as condições ideais para a catástrofe e grandes desastres para o homem. Até quando vamos repeti-los. Temos que acordar, acordar para o fato de que temos uma necessidade atávica, de pertencer a um grupo, necessidade esta, que veio de um longo período, de milhares de anos, em uma época em que o homem para sobreviver precisava viver em grandes grupo, isto lhe trazia segurança.

Realmente, hoje somos escravos de uma herança biológica, melhor dizendo, somos frutos de um descompasso entre uma lenta evolução biológica e uma super rápida evolução sócio-tecnológica. Para que isto não acabe em um grande desastre, precisamos de pessoas “despertas” pessoas que farão a diferença, serão aqueles que como disse um mestre yogui, conseguem enxergar o que tem atras do muro. Isto me traz a lembrança do que contou em um livro, um monge que não lembro o nome. contava ele que ao término da guerra do Vietname, os habitantes de Saigon, tinham muito medo dos Vietnamitas do Norte, e começaram a fugir para alto mar em pequenas embarcações, centenas e centenas destes barcos pereceram, segundo ele, os poucos barcos que sobreviveram, foram aqueles onde havia, pelo menos uma pessoa, com equilíbrio e serenidade, não se deixando levar pelo desespero da maioria.

Acredito que estaremos prestando um grande serviço, se conseguirmos construir algumas pessoas com este perfil.

Grato e até mais.

Quais são as duas expressões mais usadas no ambiente do Aikido? 

Permita por favor

 

Sem dúvida, para qualquer praticante deste caminho, destaca-se sobremaneira o volumoso e constante uso das expressões, POR FAVOR (Onegashimassu em nihongo, idioma japonês) e MUITO OBRIGADO (Domo arigato em nihongo). Estas duas poderosas expressões, trazidas para o nosso convívio pela tradição oriental, na realidade servem como um resgate de alguns valores que já foram tidos como importantes em nossa antiga cultura ocidental. Estes valores e os princípios que eles representam, estão tão desprestigiados no “jovem” mundo cosmopolitano atual, que existe um certo ranço social em relação a eles, a ponto de as pessoas de fora do ambiente do Aikido, sentirem uma certa estranheza ao presenciar a nossa prática de externar a todo o instante os nossos sentimentos, quer seja o de gratidão ou para pedir permissão ou licença para qualquer interação com as outras pessoas. É claro que este sentimento de estranheza, acontece principalmente entre as “tribos” mais jovens, em média os que tem menos de 35 anos.

O poder e a magia destas palavras, assim como tudo que elas representam, só poderão se materializar se elas estiverem embasadas, alicerçadas e sustentadas por um sentimento autêntico, elas devem vir da essência do ser, seja lá o lugar onde esta se localizar, conforme as crenças de cada cultura, seja no coração, como na cultura ocidental ou no hara (região do baixo ventre), conforme a cultura oriental, o importante é que sua origem passe longe de um trajeto cerebral. 

O Onegashimassu tem uma gama de significados bem abrangente: “Posso entrar? Posso isto? Posso aquilo? Permite que…? Você concorda que…? Com sua licença”…,, mas ao mesmo tempo não devemos ignorar o fato de que existem outras maneiras de comunicar nossas intenções, seja por outras categorias de expressões verbais (gírias, interjeições etc.) ou por gestos ou sinais faciais. Entretanto, o que deve ser mantido é a importância de que o receptor de nossa mensagem a perceba e entenda; isso é fundamental e deve ser preservado. 

Quando pedimos permissão a alguém, seja para o que for, nós estamos estabelecendo um contato mais íntimo e específico. De certa maneira, está sendo estabelecido um “contrato”, existe alguém querendo fazer algo e outrem permitindo ou não. Se não houver permissão, o “contrato” se extingue ali. Por outro lado, se houver concordância, tem início o envolvimento e o compromisso de ambos, ou seja, o que solicitou e o que permitiu. 

E devemos lembrar que isso também se aplica às relações com outros seres, não apenas os ditos humanos, e até os supostamente inanimados. Por exemplo, que diferença haverá no relacionamento com umparque” em um passeio domingueiro, entre uma pessoa que entra neste parque destituída de um sentimento de Onegasshimassu e outra, que, antes de entrar no parque, para e olha para o conjunto de elementos que compõem o lugar, as arvores, as flores, os pássaros e tudo o mais e pede permissão para desfrutá-lo, com profundo respeito e até, em um gesto um tanto estranho para alguns, escolhe uma árvore, até para simbolizar o seu gesto, e a abraça e agradece. Nos perguntamos: “Será que esta pessoa que pediu permissão terá coragem de jogar lixo no chão deste parque ou praticar qualquer ato danoso a ele?”. Acreditamos que não, não é mesmo? Pois no momento em que houve este pedido de licença estabeleceu-se uma relação um comprometimento. Esta mesma relação se estabelece entre os praticantes de Aikido, mas para isto, esta permissão não deve ser apenas uma verbalização comandada pelo cérebro, deve ser um sentimento que venha do coração, do Hara, de nossas “vísceras*”

É preciso resgatar em todas as pessoas, principalmente em nossos jovens, o valor deste sentimento, isto é, a todo instante de nossas vidas estarmos conectados,  constantemente estabelecendo relações e compromissos, pois como seres privilegiados que somos, por termos consciência, temos como consequência, o dever de sermos responsáveis pela harmonia do que nos cerca. 

  

Um japonês, quando exterioriza, através de palavras, um agradecimento, tem graduações muito sutis: “Arigato” é o mais simples, equivale a um simples obrigado, sem muita ênfase. Quando quer dar um pouco mais de expressão, diz: “Domo arigato”, que de certa maneira equivaleria ao nosso “muito obrigado”; já quando se trata de um agradecimento muito intenso ou formal, pronuncia: “Domo arigato gozaimashita”, que poderíamos definir por “muitíssimo obrigado”. 

A gratidão é o sentimento mais importante a cultivarmos e desenvolvermos em nós e em todas as pessoas sob a nossa influência. Grato por nascer, grato pelos professores, educadores e mestres, grato pelas condições de nosso corpo e nossa mente, sejam elas quais forem, pois por melhor ou pior que sejam, são nossas, e milhões de pessoas vão ter melhores ou piores, também. E cabe somente a cada um de nós o poder e a responsabilidade de mudá-las, tanto para melhor como para pior. 

Cada um de nós é como um imã, ou melhor, como um emissor de energia, e esta pode ser positiva, otimista, amigável e agradável ou pode ser negativa, pessimista, desacolhedora e desagradável. Seguidamente notamos pessoas que estão nos dois extremos, que são as ALPHAS e as THETAS. As ALPHAS, ao chegarem em algum lugar, antes mesmo de pronunciarem qualquer palavra ou ação, com a sua simples presença atraem a simpatia de crianças e animais domésticos. Do outro lado estão as THETAS, pelas quais aqueles seres mais sensíveis não se sentem atraídos, mas muitas vezes desconfortáveis com sua presença. Existem pessoas, inclusive, em cuja presença até plantas fenecem, murcham, pois elas não têm como se locomover. 

Existem pessoas que estão sempre vibrando na faixa que eu chamo de “azeda”; por uma mania ou cacoete, estão geralmente iniciando seus pensamentos sobre qualquer coisa, desde um filme, um livro ou uma pessoa, com a frases: “Não gostei disso ou daquilo”. Deveríamos fugir dos “gosto” e “não gosto”. Parece que nos sentimos mais importantes e mais adultos quando damos uma opinião do tipo gostei ou não gostei. Convido você a uma experiência: vamos passar uns dias trocando este papel de crítico autorizado, por um de descobridor de talentos; o que seria um descobridor de talentos? É aquele que está sempre procurando coisas boas, procurando o melhor, procurando, também, aquilo que tem potencial de ser melhor ou melhorado. 

Em qualquer coisa ou situação podemos, se procurarmos, encontrar coisas boas e positivas. Quem conhece um biodigestor sabe do que estou falando, pois neste dispositivo um monte de restos orgânicos e fezes resulta em gás para cozinha e, como subproduto, adubo para a lavoura. Então, em vez de olhar o ruim, de procurar do que não gostar, do que se lamentar, do que reclamar ou o que odiar; procure olhar o que há de bom, reforce o positivo, elogie as qualidades e as virtudes, pois elas podem, às vezes, ser pequenas, mas existem, começando por você, comece descobrindo e reforçando o que tem de bom em você. E mais, vou te contar uma coisa: te mentiram quando te disseram que é feio ou pecado se preocupar primeiro consigo mesmo, se amar antes de amar os outros. É tudo mentira, se você não começar a mudança por você, nada vai funcionar. 

Paremos de procurar e de lamentar o que não gostamos no mundo, em nós e nos outros, procuremos o que há de bom e nos regozijemos por isto, festejemos isto e o Universo nos dará mais disto, com certeza.

 

Não existe nada, qualquer coisa, seja mineral, vegetal ou animal, que não tenha algo de bom, algo que traga algum beneficio ao universo, Pois, se assim não fosse, não teria motivo para existir.

 

Grato